Sim, é verdade, a cidade foi fundada oficialmente em uma missa celebrada em 25 de janeiro de 1554. Mas, durante muitas décadas, a pequena vila ficou bem isolada e cresceu muito pouco – até o final do século XIX eram pouco mais de 20 mil habitantes na capital paulista. Uma forma interessante de conhecer parte dessa trajetória pode ser visitar dois espaços culturais – um no Jabaquara e outro na Vila Mariana – que representam diferentes momentos do crescimento paulistano e, ao mesmo tempo, ensinam a história da cidade.
Sítio da Ressaca
No portal de entrada da casa bandeirista existente no Jabaquara, a inscrição indica 1719, provavelmente sua data de sua construção.
Há estudos que indicam que a casinha de taipa de pilão pode ter abrigado alguns escravizados em fuga, mas não chegou a ser um quilombo – vale ressaltar que há um famoso Quilombo do Jabaquara, que reuniu mais de 10 mil pessoas que fugiam da escravidão, mas este ficava na cidade de Santos, onde também há um bairro de mesmo nome.
A casa fica hoje, aliás, junto ao Centro de Culturas Negras e recentemente passou por uma reforma. Agora, foi remontada uma exposição no local que resgata a história de Luiz Gama.
O Memorial Luiz Gama – 10 anos é uma exposição fotográfica com a finalidade de homenagear Luiz Gama e outras personalidades negras que são fruto do Legado das lutas de Gama.
Segundo o curador Max Mu, exposição pode ser um motivo para que “juntos possamos nos transformar e trazer a nossa utopia para mais perto, como Luiz Gama em sua luta utópica pela Abolição e pela República”. E propõe que “sejamos Luiz Gama e façamos a utopia ser real em cada ato de nossas vidas.
Aponta ainda que a atemporalidade da exposição – que traz imagens de 2013 e 2023, pretende “desconfundir”, distanciar-nos de uma visão colonial, em que graves desigualdades imperam, estabelecendo uma conexão com a utopia da mais alta virtude.
Casa Modernista
A Casa do Sítio da Ressaca, embora tenha sido construída no início do século XVIII, ficou esquecida e abandonada até 1937, quando foi descoberta pelo modernista Mario de Andrade, que na época ocupava o cargo de diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo.
Interessante é perceber que a cidade, nas décadas de 1920 e 1930, era ainda bem despovoada, mas vivia uma efervescência cultural, em especial por conta do movimento Modernista.
E a Vila Mariana estava no centro desse movimento, pois no bairro viviam figuras como Lasar Segal, José de Freitas Vale, que reuniam, respectivamente, em seu ateliê e na residência chamada de Villa Kyrial, vários modernistas. O concunhado de Segall, Gregori Warchavchik, construiu no bairro a primeira casa em estilo Modernista no Brasil, que ainda permanece no bairro, aberta ao público.
Houve notícias de que seria novamente transferida ao Governo do Estado, depois de que passaria a abrigar o Museu da Casa Brasileira a partir de 2025 – mas nenhuma dela sainda tem confirmação.
O fato é que ambas as casas marcam a evolução da capital paulista e atualmente fazem parte do roteiro chamado Museu da Cidade. Podem ser visitadas gratuitamente.
Serviço
O Sítio da Ressaca | Museu da Cidade de São Paulo fica naRua Nadra Raffoul Mokodsi, 3 – Jabaquara (próximo à estação Jabaquara do metrô). Abre de terça a domingo, das 9 às 17h. Entrada gratuita, sem necessidade de agendamento ou retirada de ingresso. Serviço educativo disponível.Intérprete em libras disponível, com agendamento prévio a partir do e-mail: [email protected] O Memorial Luiz Gama está em cartaz até 31 de março.
Fonte: Jornal Zona Sul