O publicitário Walter Costa, 60, caminhava pelo Ibirapuera em dezembro de 2021 quando avistou pela primeira vez um avião em baixa altitude fazendo uma curva sobre o parque, localizado na zona sul de São Paulo. Segundo Costa, essa manobra se repetiu diversas vezes ao longo do dia e continua a ocorrer até hoje.
Esses voos rasantes são resultado de uma mudança implementada nas rotas dos aviões que decolam do aeroporto de Congonhas. A reorganização, realizada alguns meses antes, redirecionou as aeronaves para áreas onde o barulho era menos incômodo, espalhando o ruído para bairros que antes não eram afetados.
Esses voos rasantes são resultado de uma mudança implementada nas rotas dos aviões que decolam do aeroporto de Congonhas. A reorganização, realizada alguns meses antes, redirecionou as aeronaves para áreas onde o barulho era menos incômodo, espalhando o ruído para bairros que antes não eram afetados.
Relatório Anual de Ruído de 2023: O que Dizem as Estatísticas?
A mudança das rotas foi uma estratégia do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) para reduzir o impacto sonoro e proporcionar economia de combustível, além de diminuir a poluição. O projeto, denominado TMA-SP NEO, está em implantação desde 2021.
Como a Nova Rota Está Impactando os Bairros Vizinhos?
A reorganização do espaço aéreo sobre a região metropolitana de São Paulo, especificamente as mudanças nas decolagens do aeroporto de Congonhas, provocou uma redução de 15,18% no nível de ruído nas curvas estabelecidas pelo PEZR (Plano Específico de Zoneamento de Ruído). No entanto, aéreas fora dessas curvas, como Itaim Bibi, Vila Nova Conceição, Paraíso e o próprio parque Ibirapuera, começaram a registrar um aumento nas reclamações de barulho.
A Infraero já havia citado essa migração do barulho em uma reunião da comissão de gerenciamento de ruído aeronáutico do aeroporto, em agosto de 2023. Um funcionário relatou que as novas rotas alargaram as decolagens para o oeste, afetando bairros como Butantã e Vila Nova Conceição.
Qual é a Solução para o Barulho de Aviões?
O CRCEA-SE (Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste) sinalizou que está incorporando, quando viável, procedimentos de redução de ruído nas cartas aeronáuticas. A reorganização recente reativou um plano de ruído atualizado em 2022 pela Infraero, aprovado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que continua em vigor.
Medidas Adotadas
- Três estações de monitoramento instaladas nos bairros vizinhos ao aeroporto
- Coordenação de um grupo técnico com vários órgãos públicos e companhias aéreas
Essas medidas são monitoradas e debatidas pela Comissão de Gerenciamento de Ruído Aeronáutico do Aeroporto de Congonhas. Ainda assim, o ajuste das rotas aéreas é um problema complexo, conforme admitido pelos envolvidos.
Quais São as Reações dos Moradores Atingidos?
Moradores de áreas afetadas pelas novas rotas aéreas, como Paulo Uehara, secretário-executivo da Associação dos Moradores de Vila Nova Conceição, destacam que não foram consultados durante a reorganização do espaço aéreo. O sentimento geral é de busca por soluções que minimizem o impacto sonoro.
Walter Costa, por exemplo, criou uma página no Instagram para pressionar pela mudança das rotas sobre o Ibirapuera, destacando que o avião em baixa altitude afeta a paz e o ecossistema local.
Iniciativas dos Moradores
- Campanha nas redes sociais
- Ação popular na Justiça Federal para tentar frear a concessão do aeroporto
Um grupo com oito associações de bairros moveu uma ação popular na Justiça Federal a fim de interromper a concessão do aeroporto, sem sucesso. No entanto, essa ação deu origem a uma central de conciliação envolvendo diversas entidades.
Conclusão do Ministério Público Federal
Em uma reunião recente, o Ministério Público Federal enviou um documento recomendando à Prefeitura de São Paulo que leve em consideração o estudo sobre ruídos em Congonhas para regulamentar a ocupação do entorno do aeroporto. O plano é que áreas com alta incidência de ruído tenham restrições para uso residencial ou que prevejam regras de construção que minimizem os níveis sonoros.
A Urbia, gestora do parque Ibirapuera, informa que não identificou alterações no comportamento das aves da área. Mesmo assim, a questão do ruído de aviões sobre parques e bairros tem mobilizado a comunidade local, buscando soluções para um problema que parece longe de ser resolvido.
Fonte: O antagonista